Sexto Domingo de Páscoa – C

 “NÃO SE PERTURBE NEM SE INTIMIDE VOSSO CORAÇÃO” (Jo 14,27)
Os apóstolos estavam um tanto desorientados. No capítulo 13 de João, Jesus havia anunciado uma traição, aquela de Judas, (v. 21) e predito a negação de Pedro (v.36-38) e, portanto, havia como que um desconcerto nos corações deles. Jesus pensou então de dar uma animada na turma. Já no início do capítulo 14 havia falado: “não se perturbe o vosso coração” (v. 1) e no Evangelho de hoje, no mesmo capítulo, prometendo a sua paz volta a repetir “não se perturbe e nem se intimide vosso coração” (v. 27). Nós também precisamos destas palavras cheias de amor e ternura. De fato, desejamos perder os nossos medos pessoais, eliminar angústias, vencer os monstros da sociedade que carregamos embutidos dentro de nós, desejamos ter certezas e contar com alguém para enfrentar a vida com mais segurança... E Jesus promete este ALGUÉM: o Espírito Santo, o Defensor (v. 26) e nos convida seguidamente a viver o amor, a guardar sua Palavra, para fazermos uma experiência sublime: TORNAR-NOS MORADA DE DEUS. (v.23)

O EVANGELHO: Jo 14,23-29

“Viremos e faremos nele a nossa morada” (v.23). Com Jesus tem sempre o Pai e, mesmo subentendido, o ES. No AT, morada de Deus era, sobretudo, a Tenda (Nm 14,10; Es 26-27) e depois o Templo (Sal 121,1; 131,3-14; Is 6; 60), como presença de Deus no meio dos homens. Porém, a presença de Deus que era uma promessa dos profetas, tornou-se realidade na Encarnação (Jo1,14). Jesus a realiza para sempre no meio dos homens.
“O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome” (v.26).   O E. S é o Paraclito, o Defensor, o próprio Espírito de Cristo. Ele é o mestre interior que “reensinará” tudo aos discípulos, fará uma memória atualizada do Evangelho. As palavras de Cristo não foram bem entendidas pelos discípulos, faltava-lhes a luz da Pentecostes. Mas o ES mostrará à Igreja que as Palavras de Cristo são Verdade e Vida e permitirá uma leitura sempre “contemporânea” do Evangelho.
“A minha paz vos dou” (v.27). Os Apóstolos podem contar também com a “sua paz” diferente daquela do mundo. Para João a paz bíblica, síntese de todos os bens é plenitude e harmonia e é fruto e dom da ressurreição (16,33;20,19.21.26). Não é uma paz apenas para confortar, mas é a paz que só Deus pode doar e consiste na comunhão com os homens. É também parente da alegria (14,28;15,11;17,13,20,20).
“Não se perturbe nem se intimide vosso coração” (v. 27). Jesus quer que os apóstolos não se espantem nas dificuldades, perseguições, pois, ele voltará com certeza (cfr. v.28). Parece até sentir o jeito forte e manso de Jesus falar!
“O Pai é maior do que eu” (v28). Este texto foi usado como argumento para negar a igualdade entre o Pai e o Filho. Não pode, todavia, ser isolado de outros textos que falam desta igualdade (como por ex. 10,30). Esta frase de Jesus somente tem sentido em relação a Jesus o Servo humilhado na Paixão.

                              A PALAVRA NOS AJUDA A VIVER
                                                         
“Não se perturbe vosso coração (Jo 14,27). Propomos esta frase de Jesus como plataforma para nossa vida nesta semana e a liturgia nos oferece um roteiro para caminhar e olhar nesta direção.

a)Acolher a buscar a paz de Jesus.
Lembra? Domingo passado Jesus nos entregou o seu mandamento: o amor. Hoje nos entrega outro presente pessoal, a sua paz, e o texto usa o mesmo verbo dar (Jo 13,34; 14, 27). A paz de Jesus não é aquela dos armistícios entre duas guerras, a paz que os romanos ofereciam, ou a paz das mesas redondas de hoje, e nem é uma paz filosófica ou produto de equilíbrios psicológicos. É a paz de Deus (Fil 4,7), a paz que é o mesmo Jesus (Ef 2,14) que é forte e poderosa, porque brota da Cruz de Jesus e da sua Ressurreição, a paz do Messias (Sl 72,7) verdadeiro que floresce no amor. Somente a “sua Paz pode realizar o sonho da segunda leitura do Apocalipse de uma nova Jerusalém (21,10), que é também uma nova história, uma nova terra, uma nova Igreja, iluminada pela glória de Deus (v. 11).

b)Guardando a Palavra, sobretudo o Amor.
Como se acolhe e alcança a paz de Jesus? Guardando as suas palavras (Jo 14,23-24): um compromisso de vida sério. De fato, o guardar a Palavra e o amor estão em sintonia, caminham juntos. A palavra amar aparece nestes capítulos de João (13-17) muitas vezes, pois é o seu testamento. Então a Palavra é para ser vivida, assimilada, deve se tornar amor em nossa história diária em cada gesto ação, se encarnar em nós. Esta é a novidade absoluta do Cristianismo que os santos praticaram ao longo dos séculos. O texto parece ter sido escrito para os discípulos que virão, de fato, as expressões “se alguém (v.23), “quem (v.24) apontam para todos os cristãos dos séculos  futuros da Igreja até o fim dos tempos.

c) O Amor nos torna morada de Deus
Agora é o fiel que se torna, pela união com o Filho, morada de Deus. Jesus hoje quer transmitir para os apóstolos e para nós uma grande confiança nele. Confiança não é palavra de fácil assimilação no mundo incerto em que vivemos, mas, se torna uma realidade quando meditamos e contemplamos a Trindade morando em nós. (v. 23). (Cfr. também Jo 1,14; 2 Cor 6,16; 1Jo 3,2, Ap 3,20...). Esta vinda Trinitária realiza-se em cada discípulo\a mediante o batismo.

d) Iluminados pelo Espírito Santo.
O ES, Espírito de Cristo, é a garantia de sermos morada de Deus. É a luz interior que está em nós, que nos ensina a re - atualizar a viver a Palavra, a evangelizar-nos e sermos evangelizadores da paz de Jesus. Ele nunca falha! Basta ver a primeira leitura (At 15,1-2.22-29) decidimos o E. S e nós...” (v. 28), quando à luz do Espírito o conflito da primeira comunidade (pagãos ou não, circuncisão ou não) se resolveu de forma sábia, no Concílio de Jerusalém, proporcionando a corrida da marcha evangelizadora.

 ORAR E A VIVER

Você é morada de Deus! Pare um pouco na corrida do seu dia e contemple esta verdade.  Isto te deve fazer repensar toda tua vida cristã. Ser morada de Deus é algo indescritível, é algo de mais forte, rico, vital do que experiência que a criança vive no útero materno, um “algo” que você sente dentro como uma força que não sabe explicar e expressar. Na natureza, o exemplo mais belo e eficaz é aquele do enxerto: dois ramos cortados e abertos, em contato com as duas partes vivas, tornam-se uma coisa só. Símbolo do enxerto de nossa pessoa em Deus (pela graça santificante!) numa unidade que faz explodir força, vida, santidade. Simbiose de Vida com vida! Deus cria como que um santuário em mim e neste posso sentir-me em casa amado, num espaço de ternura e misericórdia. Estar totalmente no instante, isto é em Deus fundir-se nele, é iluminação. É ser como o peixe que está totalmente no mar. Ou como se expressa a jovem carmelita Bem aventurada Elisabete da Trindade (1880-1906): “O meu Mestre que quer habitar em mim com o Pai e o Espírito de amor, para que eu seja uma sociedade com Eles e viva no fundo do abismo sem fundo”.
A oração de Santa Teresa de Ávila, neste domingo é quase que “obrigatória”. Pode “decorá-la” (=colocá-la no coração) recitá-la durante a semana no teu íntimo para viver uma vida contemplativa mesmo no trabalho diário.

Nada te perturbe nada te espante tudo passa! Só Deus não muda. A paciência, por fim, tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta, pois só Deus basta.

        Entenda a beleza de ser morada de Deus e a beleza da contemplação com esta simples frase de Frei Carlos Mesters. (Carmelita holandês que vive no Brasil desde 1949)
“Contemplação é a atitude de quem mergulha nos acontecimentos para descobrir e saborear neles a presença criativa e ativa do Senhor e participar assim no processo de transformação que a Palavra de Deus está realizando na história”.

E agora algumas perguntas para uma revisão de  sua vida cristã.

Sinto-me morada de Deus? \O que posso fazer para perceber mais a presença de Deus em mim? \ Quando experimentei a paz de Jesus e Jesus PAZ na minha vida?\ Qual a ação do ES na minha vida e na vida da comunidade?

Bom final de semana para todos\as- Padre Mário Guinzoni OSJ

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