Santíssima Trindade – C

Unidade e Trindade de Deus: o primeiro mistério principal de nossa fé! Parece ser mesmo “um mistério” também no sentido mais comum da palavra. Afinal: crer ou não crer na Trindade é a mesma coisa? Poderíamos viver “sem ela”? Devemos reconhecer que nem sempre o mistério da Trindade foi entendido na Igreja e na vida espiritual do povo de Deus. Escreve um autor: “na Trindade tudo é amor, unidade. O mistério da Trindade esteve à margem da vida espiritual dos cristãos. Estava presente no sinal da santa cruz e na pequena oração do Glória ao Pai. O mistério trinitário era visto mais no âmbito teológico, como intelectual. A teologia trinitária era tida como algo difícil, de nenhuma influencia na vida diária do povo de Deus. Já na teologia oriental, a Trindade sempre foi centro de atenção, de amor e de profunda adoração. Não é possível viver a plenitude da comunhão com Deus sem deixar-se possuir pelas Três Divinas Pessoas. A partir do Concílio Vaticano II houve o resgate da “presença da Trindade”. Tudo surge da Trindade e tudo  volta a Ela, fonte e centro de toda a fé. Na Trindade encontramos nosso lugar onde  somos amados. Os sacramentos nascem da Trindade, a vida religiosa tem sua casa nela, a pastoral familiar a contempla” (Frei Patrício Sciadini Carmelita O.CD.).

O Evangelho Jo 16,12-15

“Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora”  (v. 12)  

Em Jo 15,15 Jesus tinha afirmado que tinha já comunicado tudo. Mas se confrontamos este texto com Jo 2, 22 e 12,16 podemos entender como à luz da ressurreição as palavras de Jesus se tornam mais compreensíveis.

“Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará” (v. 13).

Os verbos no futuro indicam que o E. S vai ajudar a Igreja no futuro a atualizar o ensinamento de Jesus continuamente ao longo dos tempos. E isto acontece até os nossos dias.

“Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu” (v. 15).

O sentido trinitário deste texto será explicado teologicamente pela Igreja ao longo dos séculos.

“Ruminando” o texto

Os apóstolos precisavam antes experimentar o amor pascal de Jesus e receber o ES para só depois compreender o mistério da SS. Trindade e anunciá-lo. Nós também precisamos desta pedagogia que a Liturgia proporciona para nós.

Vestígios da Unidade e Trindade de Deus

É possível perceber os vestígios da Unidade e Trindade de Deus neste mundo? Não estamos falando de provas, mas, apenas, de vestígios. Apenas alguns exemplos. a) A Igreja é una: tem um só Senhor, confessa uma só fé, nasce de um só Batismo, forma um só Corpo, vivificado por um só Espírito, em vista de uma única esperança (Cfr. Ef 4,4-5), mas é também católica enviada a todos os povos, missionária. b) A natureza, e o cosmos nos dão uma lição muito linda seja no macrocosmos seja no microcosmos.Tudo gira numa busca de  unidade – diversidade misteriosa de AMOR. O dedo de Deus está mesmo ali! Só não vê quem não quer! Ler e meditar na primeira leitura, esta Sabedoria Divina do “mestre- de obras” (Pr 8, 30). c) A comunicação une o mundo num instante e leva um profundo desejo de unidade, de ideais de paz, justiça, de dignidade, para além das diferenças de cores, raças e línguas e culturas e religiões. d) Agostinho diz que em nós mesmos descobrimos estes vestígios: de fato a pessoa humana é uma mistura “fina” de inteligência, memória e vontade. Estão relacionadas entre si, mas, ao mesmo tempo diferentes, mas, sempre na nossa mesma pessoa.

Viver o mistério.

Tudo o que Jesus falou e revelou pode e deve ser vivido. Também o mistério da Trindade! Quando falamos de viver este mistério não se pode pensar numa perfeição infinita. Impossível mesmo! Pensemos: um copo e uma garrafa de um litro são perfeitos quando estão cheios, mas cada um contém uma quantidade de líquido diferente. No nosso caso o que nos torna perfeitos é quando estamos cheios de amor, quando damos tudo de nós, o máximo amor que podemos viver mesmo na nossa pequenez. Vejamos alguns exemplos para viver a vida toda “Made in Trinity!”

 §  Viver a vida trinitária na família: pais e filhos, uma unidade de amor, na diferença de pessoas, gênios, caracteres. A família vive uma diástole e sístole contínua de unidade-diversidade= um amor que vai e vem! Nem tudo é poesia, mas este é o projeto de Deus sobre a família. DEUS TRINDADE É FAMÍLIA!

 §  Viver a vida trinitária na comunidade cristã e comunidade religiosa: dons diferentes, ministérios, vocações, pessoas de idades diferentes, abertura para acolher sempre novos irmãos\ãs... mas tudo deve girar ao redor de um ideal que é para todos\as o Reino de Deus, o Evangelho. A comunidade é uma excelente escola Trinitária! Isto implica, mais uma vez perder, perder, perder! 

 §  Viver a Trindade na sociedade: se conseguirmos ver a sociedade humana como uma orquestra onde há instrumentos diferentes, sons diferentes, tocadores, regentes, solistas... mas onde tudo converge para uma sinfonia, uma música bonita uma mensagem, quem sabe podemos mesmo fazer um novo céu e uma nova terra. Esta é ainda mais um sonho!

 §  E podemos viver a Trindade em nós. Dentro de você está um Pai amoroso: “meu Pai o amará” (João 14, 23); está um amigo, o irmão dos teus sonhos e é Jesus este irmão- amigo com o qual você pode ter confiança absoluta: “Cristo em vós..” “Cristo vive em mim”! (Colossenses 1,26-28; Gálatas 4,19; Efésios 2,19-22; Gálatas 2,19-20); dentro de ti está o Amor mais lindo do mundo, Amor infinito: “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5,5).

 

Orar e contemplar o Mistério

a)Já reparou como todos os oremos da celebração eucarística são trinitários e começam no Pai, pelo Filho na unidade do ES. Nossa vida pode ser também assim uma vida orante e “doxológica”, basta fazer tudo o que se faz dentro da vontade de Deus “por Cristo, com Cristo em Cristo, a Deus Pai, na unidade do Espírito Santo”.

b)Nesta semana poderíamos saborear a oração “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo” e passar uma semana vivendo (fazendo tudo) para a glória de Deus. E quando você traça o sinal da cruz pense que está naquele momento unindo o mistério da Trindade com aquele da Redenção! Os dois mistérios principais da fé num gesto simples e profundo QUE APRENDEMOS DESDE CRIANÇAS!  

c)Muitos santos\as “se especializaram” na vida trinitária e no amor à SS. Trindade. Escolhemos apenas três para oferecer algumas preciosidades deles para meditar e orar nesta semana.

Santo Irineu (125-202)

“Deus nos abraça com seus dois braços: Jesus e o Espírito Santo” (Contra os hereges)

Santa Catarina de Sena. (1347-1380)

“Tu, Trindade és como mar profundo; mais te busco mais te encontro e mais cresce a vontade de te procurar”. (Diálogo da Divina Providência)

Elisabete da Trindade (1890-1906)

“Toda a Trindade mora na alma que ama na verdade e guarda a sua palavra” (Último retiro) “Ó Trindade morais em mim rezais em mim, adorais em mim, amais em mim, sofreis em mim, trabalhais em mim” “Encontrei meu céu na terra, pois o céu é Deus e Deus está em minha alma”. (O Céu na terra)

d)Pare e reflita. Estamos mergulhados neste mistério da Trindade, mais do que o peixe dentro da água, mais do que a criança no ventre da mãe, mas do que o pensamento em nós mesmos, mais do que o ar que respiramos, mais do que os amores que povoam nosso coração! Mas infelizmente nem percebemos a sua presença, e por isso o mistério trinitário parece tão longe de nós! E pensar que o Deus Amor “não está longe de cada um de nós, pois nele vivemos nos movemos e existimos” (At 17,27-28) ou, como diz Teresa de Ávila estamos mergulhados na Trindade “como o rio que cai no oceano”. Creia-me: é uma verdade estupenda!

e) Deixar a SS. Trindade tomar conta de nosso espírito, nossa mente, e nosso corpo. Quando nossa vida espiritual nossos sentimentos e nosso corpo se defrontam com esta presença de Deus, se ajustam para uma vida maior, desaparece neles o aspecto negativo e se tornam nossos amigos. Por exemplo, se percebo que o sentimento predominante neste momento é o medo, me pergunto: medo de que? De pessoas, de situações? De coisas? Do que os outros pensam e falam? Saber que Ele está presente nos faz superar o medo, e o medo se torna mais leve, suportável e encontramos forças em nós mesmos (as) para superação... Assim com todos os sentimentos como ciúme, inveja etc, assim com nossa vida física e nossa vida espiritual.

Amigos\as tenham uma semana maravilhosa em companhia da Santíssima Trindade- Pe. Mário Guinzoni OSJ